sexta-feira, 6 de março de 2009

Entrevista a um Pai Adolescente

Como foi a experiência de ser pai na adolescência?

"Confesso que ao princípio foi assustador, eu era um irresponsável, nos primeiros tempos nem quis saber de nada, mas depois vieram as ecografias e eu já via que dentro da minha namorada tinha um pouco de mim e comecei a mentalizar-me que dali para a frente teria de ganhar juízo e cuidar da criança que vinha sem ter culpa dos meus erros. Saí da escola, fui trabalhar, a minha vida deu uma enorme volta, mas confesso que não me arrependo minimamente."

Como procedeu ao saber que ia ser pai?

"No princípio não liguei, não quis saber, para mim aquilo era um pesadelo, eu ia deixar de ser o menino da mamã, para ser o chefe duma família. Confesso que tive muito medo."

Como viveu a gravidez com a sua companheira?

"Nos três primeiros meses, não a apoiei muito, mas depois acompanhei-a em todas as consultas e ecografias. Cheguei a sentir a minha filha mexer-se dentro da barriga da mãe."

Alguma vez lhe passou pela cabeça o aborto?

"Nunca até porque eu já era contra o aborto."

Alguma vez sentiu que não era capaz de educar a sua filha?

"Ainda agora sinto um certo medo de não conseguir. Mas tenho pessoas a ajudar-me nessa tarefa."

Agora, quando olha para a sua filha o que sente, o que vê?

"Não há explicação para o que sinto. É maravilhoso! Ela é a coisa mais importante deste mundo. Vejo a fragilidade dela, ela é muito pequenina, muito frágil mesmo, precisa de toda a minha protecção."

Qual o motivo desta gravidez?

"Ela disse-me que tomava a pílula e eu confiei, mas na realidade ela não tomava nada. Eu errei em deixar-me levar por ela, deveria ter usado preservativo."

Não pensou nas consequências?

"Se ela tomasse mesmo a pílula como disse, não tinha quase nenhuma probabilidade de engravidar, a consequência maior poderia ser uma doença sexualmente transmissível (DST), mas no momento não pensámos nas doenças."

Gostaria de deixar um conselho para adolescentes que passam, ou estejam a passar por uma situação destas?

"Que não optem pelo aborto, por vezes o caminho que parece o mais fácil não é o melhor. E um filho é maravilhoso, com um pouquinho de esforço e dedicação é uma verdadeira bênção."


Testemunho real

Um Acaso Feliz

Desabafo de mãe:

Filho, quando olho para ti, tão lindo e cheio de vida, choro e pergunto-me, como pude um dia pensar em não te deixar nascer.
Tinha eu dezasseis anos e andava na escola no 9º ano, quando conheci o teu pai. Apaixonámo-nos e começámos a namorar. Tudo era novo para mim, tudo era vivido intensamente. Contudo, o inevitável aconteceu! Eu sentia o meu corpo diferente e comentei este facto com o teu pai, e nesse exacto momento, ele pôs o carro a trabalhar e dirigimo-nos até uma farmácia. O teu pai entrou e eu esperava-o no carro. Quando saiu, trazia uma caixa na mão e disse: "Isto é um teste de gravidez. Vamos fazê-lo...". Nesse momento, fiquei gelada. Fiz o teste e o resultado, como esperado, deu positivo.
O mundo caiu-me em cima, perdi o meu chão! Eu não podia ser mãe... era muito nova, ainda não tinha terminado a escola. Isto não estava a contecer... Porquê a mim?
Disse ao teu pai que queria interromper a gravidez, mas ele foi bem firme, e disse: "O meu filho vai nascer. Se tu não queres, quero eu. O aborto está fora de questão.".
Passado o choque inicial, e com o apoio do teu pai, eu aceitei a gravidez, mas sabia que a caminhada seria longa e iria encontrar muitas pedras no caminho. A maior delas seria contar aos meus pais, ou melhor, ao meu pai, um homem que, por vezes, quando bebia se tornava violento. Como eu previa, a minha mãe aceitou e sempre me apoiou bem, mas o meu pai reagiu mal. Agrediu-me verbalmente, chamou-me os piores palavrões e durante a gravidez agrediu-me fisicamente.
Para piorar a situação, o teu pai estava de partida. Tinha assinado um contrato de trabalho de meio ano, para França e não o podia recusar. Ia ter que enfrentar a gravidez sozinha, contudo tive sempre o apoio da minha mãe e da tua avó paterna.
No dia da partida, estava grávida de dois meses e meio, e o teu pai perguntou-me se queria casar com ele quando regressasse... e deu-me um beijo na barriga e prometeu-me que vinha a tempo de te ver nascer.
Foi o meio ano, mais longo da minha vida. Sentia-me sozinha e o teu pai sofria por não poder estar junto de mim, num momento tão importante das nossas vidas. Ligava-nos todos os dias.
Faltavam apenas 3 semanas para nasceres quando o teu pai regressou. O teu pai cumpriu a promessa e chegou a tempo de te ver nascer. Contudo, tínhamos primeiro que tratar do casamento. Mais uma vez, o meu pai não facilitou as coisas. Como ainda era menor de idade, precisávamos da assinatura do meu pai, como permissão para podermos casar, e ele recusou dá-la. Após muita luta, ele foi obrigado a assinar.
Casámos no dia 6 de Dezembro, apenas com duas tesmunhas. Uma vez casados, fomos almoçar.
Embora já durante a cerimónia do casamento tivesse sentido algumas dores, não dei muita importância, pois pensei que fosse devido aos nervos. Mas, à saída do restaurante, a bolha de água rebentou, fomos a casa buscar um saco com tudo o que necessitávamos e dirigimo-nos ao hospital.
Nasceste pelas 3 horas do dia 7 de Dezembro e o teu pai estava junto de mim a ver-te nascer. Nasceste na nossa noite de núpcias, de certeza, que ninguém teve uma noite tão original...
Surgiu uma nova proposta de trabalho para o teu pai no estrangeiro, mas desta vez fomos com ele. Fomos para Palma de Maiorca, mas a adaptação para mim foi muito difícil. Num ano, a minha vida mudou muito, deu uma volta de 360 graus.
Deixei de ser uma menina, para ser esposa e mãe, num local diferente com uma língua diferente.
O teu pai foi e é um grande companheiro, paciente e amigo, mas acima de tudo é um pai maravilhoso, pois com apenas 18 anos soube agir como um homem de verdade.
Hoje, passados 3 anos, olho para ti e sorrio. Não posso dizer que foste desejado, nem tão pouco planeado, mas és sem dúvida muito amado. Simplesmente, és o acaso mais feliz da minha vida!
Testemunho real