sexta-feira, 6 de março de 2009

Um Acaso Feliz

Desabafo de mãe:

Filho, quando olho para ti, tão lindo e cheio de vida, choro e pergunto-me, como pude um dia pensar em não te deixar nascer.
Tinha eu dezasseis anos e andava na escola no 9º ano, quando conheci o teu pai. Apaixonámo-nos e começámos a namorar. Tudo era novo para mim, tudo era vivido intensamente. Contudo, o inevitável aconteceu! Eu sentia o meu corpo diferente e comentei este facto com o teu pai, e nesse exacto momento, ele pôs o carro a trabalhar e dirigimo-nos até uma farmácia. O teu pai entrou e eu esperava-o no carro. Quando saiu, trazia uma caixa na mão e disse: "Isto é um teste de gravidez. Vamos fazê-lo...". Nesse momento, fiquei gelada. Fiz o teste e o resultado, como esperado, deu positivo.
O mundo caiu-me em cima, perdi o meu chão! Eu não podia ser mãe... era muito nova, ainda não tinha terminado a escola. Isto não estava a contecer... Porquê a mim?
Disse ao teu pai que queria interromper a gravidez, mas ele foi bem firme, e disse: "O meu filho vai nascer. Se tu não queres, quero eu. O aborto está fora de questão.".
Passado o choque inicial, e com o apoio do teu pai, eu aceitei a gravidez, mas sabia que a caminhada seria longa e iria encontrar muitas pedras no caminho. A maior delas seria contar aos meus pais, ou melhor, ao meu pai, um homem que, por vezes, quando bebia se tornava violento. Como eu previa, a minha mãe aceitou e sempre me apoiou bem, mas o meu pai reagiu mal. Agrediu-me verbalmente, chamou-me os piores palavrões e durante a gravidez agrediu-me fisicamente.
Para piorar a situação, o teu pai estava de partida. Tinha assinado um contrato de trabalho de meio ano, para França e não o podia recusar. Ia ter que enfrentar a gravidez sozinha, contudo tive sempre o apoio da minha mãe e da tua avó paterna.
No dia da partida, estava grávida de dois meses e meio, e o teu pai perguntou-me se queria casar com ele quando regressasse... e deu-me um beijo na barriga e prometeu-me que vinha a tempo de te ver nascer.
Foi o meio ano, mais longo da minha vida. Sentia-me sozinha e o teu pai sofria por não poder estar junto de mim, num momento tão importante das nossas vidas. Ligava-nos todos os dias.
Faltavam apenas 3 semanas para nasceres quando o teu pai regressou. O teu pai cumpriu a promessa e chegou a tempo de te ver nascer. Contudo, tínhamos primeiro que tratar do casamento. Mais uma vez, o meu pai não facilitou as coisas. Como ainda era menor de idade, precisávamos da assinatura do meu pai, como permissão para podermos casar, e ele recusou dá-la. Após muita luta, ele foi obrigado a assinar.
Casámos no dia 6 de Dezembro, apenas com duas tesmunhas. Uma vez casados, fomos almoçar.
Embora já durante a cerimónia do casamento tivesse sentido algumas dores, não dei muita importância, pois pensei que fosse devido aos nervos. Mas, à saída do restaurante, a bolha de água rebentou, fomos a casa buscar um saco com tudo o que necessitávamos e dirigimo-nos ao hospital.
Nasceste pelas 3 horas do dia 7 de Dezembro e o teu pai estava junto de mim a ver-te nascer. Nasceste na nossa noite de núpcias, de certeza, que ninguém teve uma noite tão original...
Surgiu uma nova proposta de trabalho para o teu pai no estrangeiro, mas desta vez fomos com ele. Fomos para Palma de Maiorca, mas a adaptação para mim foi muito difícil. Num ano, a minha vida mudou muito, deu uma volta de 360 graus.
Deixei de ser uma menina, para ser esposa e mãe, num local diferente com uma língua diferente.
O teu pai foi e é um grande companheiro, paciente e amigo, mas acima de tudo é um pai maravilhoso, pois com apenas 18 anos soube agir como um homem de verdade.
Hoje, passados 3 anos, olho para ti e sorrio. Não posso dizer que foste desejado, nem tão pouco planeado, mas és sem dúvida muito amado. Simplesmente, és o acaso mais feliz da minha vida!
Testemunho real

3 comentários:

  1. Humm a Nossa História Veridica. Muito Bonita :D Deixa o teu comentário... Beijinhos Genii

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  2. Este caso é a prova de que se pode vencer, a cima de tudo e de todos...
    É a prova de que ao primeiro embate de uma enorme dificuldade, se houver força de vontade pode-se vencer...
    Lembrem-se de que aquilo que pode parecer um abismo, pode apenas ser uma pequena ravina que tem de ser ultrapassada..
    Andreia (um dos elementos do grupo)

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  3. Concordo plenamente com a Andreia. Por vezes, quando nos deparamos com uma dificuldade, pensamos seguir pelo caminho que parece ser mais fácil, contudo nem sempre isto é o melhor.
    Quantas mulheres já abortaram pois não lhes interessava ser mães naquelas altura? E depois quando mais tarde querem ter filhos e não conseguem, o que sentem estas mulheres?
    Como já referimos, quando nos deparamos com uma gravidez nesta altura tão complicada das nossas vidas, devemos sempre conversar com a nossa familia e também com algum especialista, pois estes sim tem conselhos para nos dar... Às vezes pensamos que os nossos amigos dão bons conselhos e alguns até podem dar... mas que experiência de vida eles tem? se viveram apenas 16/17/18 anos? Tomem cuidado... a Vida é apenas UMA, e nós temos tudo nas nossas mãos para torna-la maravilhosa...
    Geni* elemento do grupo

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