segunda-feira, 11 de maio de 2009

Entrevista
















A Socialis é uma Associação de Solidariedade Social da Maia que, através do "Projecto Semente", intervém a nível da prevenção da gravidez precoce e acompanhamento de grávidas e mães adolescentes.
Que tipo de apoio é prestado às jovens grávidas?
“ Basicamente queremos fazer a prevenção da gravidez e para isso o Projecto Semente tem um conjunto de acções que põe em prática diariamente. No âmbito dessas acções temos um gabinete de apoio à jovem, no qual colaboram uma médica e uma enfermeira, onde qualquer jovem de idade fértil até aos 25 anos pode aceder, nomeadamente aos contraceptivos e de forma gratuita. As jovens têm um acompanhamento ginecológico adequado, podem expor todas as dúvidas sobre a sua sexualidade, e este apoio é prestado de forma anónima, confidencial e gratuita. Muitas vezes as jovens têm vergonha de se dirigirem a um centro de saúde e preferem ir a um local onde ninguém as conheça e assim preservar a sua identidade.
No Centro de Atendimento a Jovens (CAJ) nós fazemos essencialmente prevenção primária, pois temos casos em que não há mesmo uma gravidez e por isso o CAJ funciona para que qualquer jovem se previna de uma situação que pode vir a ser indesejada. Depois actuamos na prevenção secundária e terciária, quando as jovens já estão grávidas ou já são mães. Aí nós temos um gabinete de apoio psicossocial e de orientação profissional e esse acompanhamento é feito pela assistente social, a jovens até aos 19 anos de idade e que já vêm encaminhadas ou de escolas, ou de tribunais, hospitais e centros de saúde.”



Qual o número médio de jovens grávidas que passam por esta instituição?

“Neste momento temos sessenta e oito utentes, sendo que sete estão na nossa casa de acolhimento.”

Média das idades das jovens grávidas que recorrem a esta instituição?

“A média das idades das jovens que recorrem à SOCIALIS aumentou em relação ao ano passado, sendo assim a média é de dezassete anos.”

O número médio de jovens grávidas tem diminuído ou aumentado?

“O número médio de jovens tem aumentado, por isso apostamos cada vez mais na prevenção, porque de facto uma gravidez na adolescência, vai alterar toda uma trajectória de vida de uma jovem. Pois apesar de tudo a jovem quer na mesma sair à noite, ter a possibilidade de deixar o bebé com a mãe ou com alguém que tome conta dele. Aqui é extremamente importante haver uma retaguarda, que poderá ser a família directa, pessoas da vizinhança que apoiam as jovens, os companheiros, as próprias escolas, tudo isto vai definir o projecto de vida destas jovens, isto é, vai depender da implicação das jovens, da família e da própria estrutura que as rodeia.”

Pela experiência que tem, como retrata a sua vivência com os casos que por aqui passaram?

“Em relação aos casos que por aqui têm passado, nós técnicas, não opinamos, visto que muitas jovens entram aqui com a ideia de abortar e a única coisa que temos que fazer é encaminhá-las para os técnicos especializados – Hospitais Públicos – onde irão ser informadas melhor sobre o assunto. Cada caso é um caso, assim temos que adoptar um projecto de vida para cada jovem, pois as histórias de vida variam muito.”

Quais são os problemas que mais afectam as mães adolescentes?

“…há uma série de problemas que estão associados à gravidez na adolescência, desde a questão dos baixos recursos económicos, de violência doméstica, negligência. A gravidez na adolescência está associada a muitas problemáticas sociais.”



Quais são os motivos, perante os estudos do Projecto Semente, que levam a uma gravidez precoce?

“A nossa primeira intervenção é a intervenção primária, porque uma das causas mais comuns da gravidez na adolescência é a falta ou insuficiência de conhecimento a nível da contracepção sexual. Existe muita falta de informação e há informação deturpada. Outra causa está relacionada com as questões culturais: as filhas repetem comportamentos que as suas mães já tinham assumido.



Qual a reacção das jovens grávidas, perante esta situação?

“Muitas jovens numa primeira instância pensam no aborto…”



Qual é a atitude da família relativamente à jovem grávida?

“A atitude da família difere de situação para situação, não se pode dizer que há uma atitude típica até porque muitas vezes estes comportamentos já se passaram com as mães, acaba por ser uma situação que é geracional. Como as mães foram mães adolescentes, não é para elas muito difícil aceitar esta situação, portanto acaba por ser algo que está intrínseco a elas. (Tem a ver com uma das causas da gravidez na adolescência). Há famílias que aceitam muito bem porque também já foram mães adolescentes, o namorado facilmente se insere na família e rapidamente os laços se formam facilmente.
Mas há outras famílias que reagem de modo diferente e numa fase inicial até rejeitam essa questão da gravidez ainda que a jovem ache que essa é a melhor solução. Desejam sair de casa dos pais, ir viver com o namorado e adquirir autonomia, embora por vezes isso não aconteça.
Aqui encontram um porto de abrigo.”

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